Muitos trabalhadores da indústria poderão assistir aos jogos da Copa em casa. E não só os do Brasil. Mas não necessariamente por vontade própria. A desaceleração da economia, associada à fraca demanda e aos feriados durante o período do mundial, levou fábricas de diferentes áreas, especialmente as de bens duráveis (como carros), a dar férias coletivas aos empregados ou a mudar a jornada de trabalho neste mês de junho.

Entre os setores que decidiram dar ou antecipar férias coletivas, além do automotivo, estão os de eletrodomésticos, eletrônicos e de móveis.

Um levantamento da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), por exemplo, aponta que 58% das empresas do setor eletroeletrônico estão prevendo perdas em sua produção durante a Copa e que 33% das companhias estão preparando jornada especial no período, numa tentativa de amenizar as perdas.

O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, já admitiu que, ao contrário do esperado para o setor de serviços, a indústria poderá ter “algum prejuízo” com a Copa.

Desempenho fraco em 2014
A indústria brasileira tem patinado nestes primeiros meses de 2014. No acumulado de janeiro a abril, a produção assinala perdas de 1,2%, na comparação com os quatro primeiros meses do ano passado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Entre as categorias mais castigadas estão as de bens de capital (máquinas), com queda de 4,8% no ano, as de bens intermediários (matérias-primas), com recuo de 1,5% e as de bens de consumo duráveis (como carros), que caiu 1%. 

Para Rogério Cesar de Souza, economista do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), os dados do IBGE mostrando queda não só da produção industrial como também do emprego indicam que "a crise da indústria é bem maior".

"Não se imaginava um quadrimestre tão fraco. Esperávamos que o 2º trimestre pudesse mostrar alguma reação, mas tudo indica que a indústria manterá o mesmo ritmo, se não no negativo, muito próximo de zero", avalia o economista.

Para ele, o impacto da Copa para o setor será "marginal" e "decepcionante". “Esperava-se muito mais. Dos investimentos sugeridos para mobilidade urbana, que poderiam dar um impulso ao setor neste ano de Copa, não aconteceu praticamente nada", diz Souza.

Levantamento do G1 mostra que penas 50% das obras de mobilidade prometidas foram entregues.

Estoques em alta
Sem sinais de aquecimento do consumo no curto prazo e sem novos pedidos de encomenda do varejo, parte da indústria já dá o 1º semestre como praticamente fechado e decidiu recorrer às férias coletivas para ajustar sua produção atual à demanda.

“Para a indústria, a Copa já passou. É o que está nas lojas”, afirma o presidente da Abimóvel (Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário), Daniel Lutz. Segundo ele, as férias coletivas ou a redução da jornada de trabalho estão entre as estratégias adotadas pelas empresas do setor para lidar com os estoques altos. “O mês de junho continua parado. O varejo parou de comprar e acredito que o mercado só irá reagir depois da Copa”, disse.

Fonte: G1, 17 de junho de 2014.