As operações de crédito no Brasil para pessoas físicas e jurídicas saltaram de 27,7% do total do Produto Interno Bruto (PIB) em 2000 para 56,5% em 2013, segundo o Banco Central, mas perderam fôlego. O resultado, que foi fomentado principalmente por bancos públicos como a Caixa Econômica Federal na habitação e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no financiamento para investimentos, deve cair em 2014 diante da alta de juros e das baixas taxas de crescimento da economia nos últimos anos, que diminuem a participação das instituições privadas na oferta de crédito. 

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a reclamar no início deste mês que a redução prejudica o consumo no País. Para ele, embora os níveis de inadimplência estejam baixos, há resistência dos bancos em liberar recursos para o consumidor, o que inibe o crescimento. No entanto, Mantega vê o movimento como passageiro. 

Analistas econômicos pensam diferente. "Os bancos perceberam que valia a pena emprestar para a nova classe média quando a economia crescia uma média de 4% ao ano, mas esperar que o mesmo ocorra em um cenário de crescimento baixo não é válido", diz o professor de economia Marcelo Curado, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). 

A inflação e os juros altos diminuem a oferta porque o mercado age de acordo com interesses, afirma Curado. Integrante do Grupo Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Luciano D’Agostini considera que quando o PIB cresce menos do que o crédito, isso reduz garantias de que os financiamentos serão quitados. "Os bancos privados sabem que há problemas e, em um ambiente de endividamento de famílias e de empresas, a capacidade de pagamento fica comprometida." 

D’Agostini ainda vê risco de a alta taxa de juros real corroer a distribuição de renda conquistada nos últimos anos. A Selic, usada como base, subiu aos poucos desde o patamar de 7,25% de março do ano passado para 11% hoje. "É algo que causa transtorno grande para o consumo das famílias e para a formação bruta de capital das empresas", diz ele, que espera um corte de gastos por parte do governo e uma reforma tributária para o País voltar a crescer. 

O professor da UFPR Marcelo Curado diz ainda que se trata de uma demonstração de que o modelo econômico baseado no consumo das famílias está esgotado. Por isso, vê como definida a situação para 2014, com crescimento baixo, inflação próxima ao teto estipulado pelo BC, de 6,5%, e desequilíbrio no mercado externo. "Qualquer governo que assumir terá de arrumar a casa, com revisão de gastos e de políticas fiscais." 

Durante a crise
A partir da crise de 2008, o País passou a ser um porto seguro para investidores estrangeiros, principalmente pelo aumento da renda média da população. Conforme o BC, em 2007 os investimentos estrangeiros somaram US$ 34,6 bilhões, foram a US$ 66,7 bilhões em 2011, patamar em que têm ficado desde então, com a previsão de fechar em US$ 64,5 bilhões em 2014, com base em números de abril. 

O BNDES teve papel importante para impulsionar os financiamentos empresariais no período, com alta significativa nos desembolsos desde 2000, quando ficou com R$ 23 bilhões. Em 2007, o valor estava em R$ 64,9 bilhões, teve seguidos saltos até os R$ 168,4 bilhões de 2010, voltou a cair, mas fechou 2013 em R$ 190,4 bilhões.

Fonte: Folha de Londrina, 26 de junho de 2014.