O brasileiro prefere parcelar suas compras e boa parte não controla seus gastos. Um estudo realizado pelo portal Meu Bolso Feliz (www.meubolsofeliz.com.br), uma iniciativa de educação financeira do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), mostrou que 55% dos brasileiros preferem parcelar suas contas. Os outros 45% não veriam problema em viver sem crédito e ter de pagar tudo à vista. Isso não quer dizer que teriam condições de fazê-lo. O levantamento mostrou ainda que 35% da população não consulta seu extrato antes de ir às compras.
A pesquisa também concluiu que grande parte dos brasileiros conta com o crédito oferecido pelo banco como parte da renda mensal, não sabe quanto tem de despesas e ainda sobrepõe parcelas de compras diversas, o que, muitas vezes, faz a pessoa ficar com o nome sujo no mercado.
O economista e professor da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR), Carlos Magno Bittencourt, disse que a raiz de todo o problema é a falta de planejamento financeiro. Segundo ele, a maior parte das pessoas não coloca em uma planilha ou caderneta os gastos, o que gera desequilíbrio no orçamento familiar.
Ele disse que as pessoas querem realizar grande parte dos sonhos em um curto prazo de tempo sem planejar. "Quando usam o cartão de crédito anestesiam a dor do desembolso imediato, mas não lembram que depois vem a fatura e usam o rotativo do cartão", alertou. Bittencourt acredita que o principal vilão do endividamento do brasileiro é o cartão de crédito que tem juros médios de 12,5% ao mês e de 250% ao ano. Ele disse que quando vem um gasto inesperado, as pessoas acabam se perdendo no próprio orçamento.
Para quem está com dívidas atrasadas, a primeira dica é tentar trocar o saldo devedor com juros altos por taxas menores como o do crédito consignado ou do crédito pessoal. Outra sugestão é começar a utilizar uma planilha para anotar todos os gastos e aposentar o cartão de crédito.
Para o economista, outra razão para o alto endividamento no Brasil são os baixos salários e o fato de as pessoas quererem consumir tudo no curto prazo. "O consumidor quer comprar uma TV, um micro-ondas e um home theater ao mesmo tempo", exemplificou.
Ele destacou que quase todas as pessoas são endividadas, ou seja, têm compras parceladas. O problema, segundo o economista, é quando o consumidor não tem mais capacidade de pagamento e fica inadimplente acima de 90 dias. "Há dívidas boas, como um financiamento habitacional, por exemplo. As dívidas têm que ser bem administradas", disse. O ideal, segundo ele, é que sobre de 10% a 15% da renda mensal da pessoa para aplicar.
Outras dicas do SPC são parcelar apenas compras grandes como um sofá, uma TV ou um carro e ainda tendo certeza de que terá dinheiro para quitar todas as prestações. Mesmo assim, o consumidor deve pensar antes se realmente precisa do produto agora ou se pode esperar um pouco para comprar à vista ou dar uma entrada maior.
"O planejamento serve para a pessoa saber se realmente precisa de um bem, além de ter tempo para pesquisar valores, a qualidade do produto, preços e condições de pagamento", explicou o educador financeiro do portal Meu Bolso Feliz, José Vignoli. Ainda segundo o SPC, se a pessoa não tem três vezes o valor do seu salário na poupança é porque está em uma situação frágil. E quanto mais frágil a situação, menos deve fazer novas dívidas.
Fonte: Folha de Londrina, 10 de julho de 2014.