O volume financeiro movimentado com cartões de débito e de crédito fechou o primeiro semestre em R$ 455 bilhões, alta de 16,3% sobre o mesmo período de 2013. A Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) divulgou ontem que o balanço reforça a previsão da entidade de crescimento de 17% no uso de operações do tipo no ano, o que significaria R$ 1 trilhão em transações. 

Do total movimentado, os cartões de débito representaram R$ 164 bilhões, valor 21,6% maior do que na primeira metade de 2013, e os de crédito, R$ 291 bilhões, ou 13,5% a mais. Foram 4,8 bilhões de transações com plásticos em 2014, ou alta de 12,3% sobre a primeira metade de 2013. 

O presidente da Abecs, Marcelo Noronha, afirmou ontem que o aumento da base de usuários, influenciado pela estabilidade do número de empregos e da renda, deve fazer com que o volume continue a apresentar crescimento no ano que vem, ainda que em patamar menor. "Devemos continuar a ver inflexão da curva do crescimento em 2015, mas o setor de cartões ainda deve manter patamar de dois dígitos de avanço", disse. 

Consultor da Associação Comercial do Paraná (ACP) e diretor executivo do Datacenso, Claudio Shimoyama afirma que o uso do dinheiro de plástico faz cada vez mais parte dos hábitos de consumo no País, diante da maior segurança e praticidade que a modalidade de compra oferece. Ele diz, porém, que o débito ganha mais espaço pelo momento da economia. "Com a queda do poder aquisitivo causada pelas altas dos juros e da inflação, a tendência é de se comprar mais à vista", diz, ao lembrar ainda que as pequenas compras são, quase sempre, feitas à vista. 

Para o professor de economia Antônio Zotarelli, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), países mais desenvolvidos economicamente diminuíram muito o uso de dinheiro em espécie ou cheques e que há espaço para o crescimento do uso de cartões no Brasil. "A inclusão financeira da classe média passa pelo uso do débito, que é o primeiro passo para a integração de uma camada da sociedade que começa a ter acesso a esse serviço", diz. Prova é a redução do valor do tíquete médio. Com cartão de crédito, o valor foi de R$ 83,40 em junho deste ano ante 

R$ 85,40, um ano antes, conforme a Abecs. 

Porém, ambos ainda consideram alto o custo de anuidades para consumidores e do sistema de cartões para lojistas. "A taxa administrativa das máquinas pode diminuir com a concorrência, mas não vejo isso ser barateado. O comerciante acaba absorvendo os custos", diz o consultor da ACP. "A tendência seria que reduzissem os custos, mas não sei se ocorrerá tão cedo no Brasil, porque são poucas operadoras", completa Zotarelli. A Abecs divulgou que a taxa média de descontos para os cartões cai a cada ano, mas a diferença foi de 2,96% em 2008 para 2,72% em 2014 para o crédito. 

Efeito Copa
O valor gasto por estrangeiros no Brasil, influenciado pela realização da Copa do Mundo, foi de R$ 1,3 bilhão em junho, aumento de 96,9% em um ano e de 55,7% ante maio. "Devemos ter impacto nos números de julho do setor de cartões também por efeito Copa", afirmou Noronha.

Fonte: Folha de Londrina, 20 de agosto de 2014.