Temas polêmicos estão rondando os candidatos à Presidência da República nos últimos dias. Depois de Marina Silva (PSB) recuar e tirar de seu programa de governo um item que tratava da defesa da criminalização da homofobia, a discussão sobre este e outros temas considerados "espinhosos" por quem está em busca de votos ganhou destaque na mídia e nas redes sociais. Afinal, o que pensam os candidatos sobre pautas que dividem a opinião do eleitorado, como a criminalização da homofobia, o casamento gay, a descriminalização do aborto e a regulamentação do uso da maconha? 

Bastante discutidos pelo Legislativo nos últimos anos, os temas "tabu" são praticamente ignorados pelos principais candidatos à Presidência. A cientista política Alessandra Aldé, professora do departamento de Comunicação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), explica porque os presidenciáveis preferem ignorar a polêmica. 

Segundo ela, o processo eleitoral é uma competição que depende de estratégias políticas para conquistar os eleitores. No caso das eleições majoritárias (presidente, governador, senador e prefeito), o objetivo é conquistar a maioria, por isso, os candidatos evitam tocar em temas que dividem o eleitorado, como é o caso dos assuntos polêmicos que ganharam a mídia nos últimos dias. "A decisão de se posicionar com relação a temas que dividem opiniões pode colocar uma parcela da população contra o candidato", avalia. 

Ela lembra que a "saia justa" imposta aos candidatos diante da discussão destes temas não é privilégio da atual campanha. "Nas eleições presidenciais de 2010, a polêmica era sobre o aborto. Dilma e Serra, apesar de terem posições progressistas, não se manifestaram claramente sobre o tema para não desagradar o eleitorado mais conservador", considera. 

Outra célebre história envolve o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que, em 1985, quando era candidato a prefeito de São Paulo, deixou de responder objetivamente à pergunta "o senhor acredita em Deus?", proferida pelo jornalista Boris Casoy em um debate televisivo. Na época, o principal adversário de FHC, o ex-presidente Jânio Quadros, explorou a suposta falta de crença do oponente através de uma campanha difamatória de cunho religioso. No fim, derrotou Fernando Henrique por uma diferença de pouco mais de 141 mil votos. 

Diante da capacidade que estes temas possuem de levar o eleitor a mudar de opinião, Alessandra destaca que o maior erro de Marina, na atual campanha, foi ter voltado atrás no texto do programa que trata de direitos da comunidade LGBT. "É racional evitar se posicionar para não perder apoio. É uma questão estratégica", diz ela, alertando que voltar atrás em uma posição, entretanto, é muito ruim para a construção da imagem. "Os brasileiros já são desconfiados com relação aos políticos e podem perder ainda mais confiança", opina. 

Alessandra destaca que a atitude de Marina refletiu sobre os outros candidatos, que diante da polêmica passaram a ser cobrados para se posicionarem sobre o tema. "Mas a posição pessoal dos candidatos não é discussão para campanha, pois a decisão em relação a estes assuntos não depende só do presidente da república", acredita. 

Se do ponto de vista dos candidatos majoritários com chances reais de vencer o pleito, o posicionamento sobre temas polêmicos não é a melhor estratégia, para os candidatos "menores", sem chances reais de chegar ao segundo turno, defender algumas bandeiras é importante para reforçar posição entre os eleitores. Na atual campanha, por exemplo, enquanto o Pastor Everaldo (PSC) defende abertamente a redução da maioridade penal e se coloca contra o aborto e o casamento gay, Luciana Genro (PSOL) e Eduardo Jorge (PV) afirmaram em várias entrevistas que defendem a discussão sobre a descriminalização do aborto, regulamentação da maconha, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a criminalização da homofobia. O mesmo vale para os candidatos a deputado. "Eles não precisam convencer o Brasil inteiro, mas um segmento específico da sociedade. Não é à toa que temos parlamentares tão diferentes como Jair Bolsonaro (deputado conservador ligado à bancada evangélica) e Jean Willys (defensor de bandeiras da comunidade LGBT) eleitos com muitos votos. Eles não precisam agradar todo mundo", avalia.

Fonte: Folha de Londrina, 08 de setembro de 2014.